Cel Inf Pedro Américo Leal
Poesia declamada pelo autor pela primeira vez em 24 de agosto de 1991, na reunião da Confraria dos Camaradas de Cavalaria – 3C – POA/RS.
Velha bota estropiada,
de enfrentar tanta refrega,
és símbolo d’arma montada,…
irmã do “Velho Borzega”.
Cano longo, curto, ou de fole,
vaqueta, couro e de cromo,
não tivestes vida mole,
nas andanças do teu dono.
Nas linhas do teu traçado,
n’altura do teu talão,
tens o cano esbranquiçado,
pelo suor do “amigão”.
Pois na cor preta desbotada,
em contato com os baixeiros
pulsa o coração da montada,
na união com o cavaleiro.
Hoje, não tão firme nos cascos,
recordo o passado onde mora,
tanta festança, o churrasco
que te brindei com uma espora.
E tu, faceira, elegante,
prenda desfilando em salão,
tocaste comigo para frente,
em parada, manobra, instrução.
Lembro quando eras bem nova,
ao ressoarem as trombetas,
enquadravas a montada para prova,
até que viessem as rosetas.
E se hoje, velha, te amolo,
é que muita tacada te devo,
nas pexadas, nas correrias do pólo,
que nem de lembrar eu me atrevo.
Mas… o tempo passou e de repente,
as baias viraram garagem,
se foi o culote, o rebenque,
os cavalos viraram miragem.
Mecanizado… se foi o tempero,
os potreiros, a carriére, o tropel,
os relinchos, da forragem o cheiro,
virou um silêncio o quartel.
Quando as tardes se vão, a largo,
sorvendo o meu chimarrão,
sinto, no relinchar do amargo,
a cincha da recordação.
Esporeado na Ilharga,
velho matungo invernado,
recordo a última carga,
que não respeitou o alambrado.
Ouço então dentro de mim
como lançaço, um toque repicar,
é uma ordem, quem resiste a um clarim?
Mandando o esquadrão avançar!
Te calço, Bota Velha, não te faças de rogada
não te dispenso, p’reste galope imaginário,
vejas nesta carga, em disparada,
lá na frente, vai Osório, o legendário.
Fonte: Era uma vez na Cavalaria – Geraldo Lauro Marques, Editora Alcance.